Na edição desta quarta-feira, dia 23, o programa Informativo 87 recebeu uma convidada muito especial: Maria de Lourdes Zimermann Cardoso, enfermeira que marcou a história da saúde em Armazém durante a década de 1970. Aos 92 anos, lúcida e comovente em suas palavras, ela compartilhou lembranças de sua trajetória no Hospital Santo Antônio, onde atuou de 1969 a 1976.
Natural de Ilhota, Maria de Lourdes chegou a Armazém em 13 de junho de 1969, após ser designada por sua superiora do convento que frequentava. Ao chegar, encontrou um hospital improvisado, instalado no antigo Sindicato, na Rua Manoel Pereira, nas proximidades da atual Visalar Imobiliária. Na equipe, além dela, estava o médico Dr. Jesus.
Diante da precariedade da estrutura e do aumento dos atendimentos, Maria de Lourdes teve a iniciativa de solicitar ao padre local que a Casa Paroquial fosse cedida para funcionamento do hospital. Em contrapartida, a comunidade se comprometeria em construir uma nova residência para os sacerdotes. A proposta foi aprovada após reunião com autoridades, e o hospital ganhou um novo espaço, com mais condições para atender à população.
“Todo dia o padre Urbano ia aplicar uma injeção. Toda vez que ele ia, eu tocava no mesmo assunto, na décima ia ao hospital, o padre solicitou que realizasse uma reunião para fazer a tal a mudança”, relembra dona Maria de Lourdes.
Com o apoio da comunidade, o hospital sobreviveu e cresceu. Maria de Lourdes acompanhou esse desenvolvimento de perto: realizou mais de 2 mil partos e participou de inúmeras cirurgias, atendendo pacientes de Armazém e de cidades vizinhas como São Martinho, São Bonifácio, Gravatal, Braço do Norte, Imaruí, entre outras. Ela confidenciou que evitava participar de cirurgias ortopédicas, pois se sentia incomodada com o procedimento.
Dona Maria também emocionou ao relembrar um episódio marcante: a adoção de um bebê abandonado no hospital devido à má formação e problemas de saúde. Já fora do convento, decidiu adotar a criança com seu esposo. Anos depois, a criança faleceu, deixando uma marca profunda em sua história de vida.
Em 1976, a enfermeira se mudou para Blumenau, onde continuou a trabalhar no Hospital Santo Antônio daquela cidade. Casou-se, adotou mais um filho — hoje residente com ela em Timbó — e ganhou dois netos, um deles estudante de radiologia.
Após se aposentar, retornou para Armazém em 2007. Em 2009 ficou viúva e, em 2017, foi morar com o filho em Timbó.
Durante sua entrevista, Maria de Lourdes fez questão de recordar médicos com quem trabalhou, como Dr. Nicolau Kruel, Dr. Roque e tantos outros. Vale destacar que, embora não possuísse formação acadêmica em enfermagem — algo permitido na época —, sua atuação foi fundamental para o desenvolvimento da saúde no município. A primeira enfermeira com graduação no hospital foi Nerecy Nely May Phillipi.
Maria de Lourdes veio à Armazém, para participar de um evento promovido pela Secretaria Municipal de Assistência Social, por meio do CRAS, com o Grupo da Terceira Idade. Após a entrevista na rádio, visitou o Hospital Santo Antônio, onde foi recebida pelo diretor Murilo Pedroso e conheceu a atual estrutura da instituição que ajudou a construir. Além disso, se encontrou com o Prefeito Municipal Luiz Mendes e esteve na Igreja Matriz São Pedro.
“Sou grata a toda população Armazenense que me deu a chance de escrever o inicio de minha trajetória na enfermagem aqui na cidade. Lutamos muito, mas nunca deixamos de atender um doente por falta de qualquer coisa, pois o povo nos ajudou. Todo mundo amava o hospital, pois era uma necessidade”, finaliza ela emocionada.
Seu legado permanece vivo na memória de muitos e na história da saúde de Armazém.
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Fonte: Redação | Foto: Adinei Corrêa/RCA
